Em 1937, quando Taiichi Ohno ainda trabalhava na Toyoda Spinning and Weaving ouviu um homem dizer que a produção de um trabalhador americano era nove vezes   maior que de um japonês. Quando em 1945, Kiichiro Toyoda disse: “Alcancemos os Estados Unidos em três anos. Caso contrário, a indústria automobilística do Japão   não sobreviverá.” Ohno pensou: “Mas será que um americano podia realmente exercer nove vezes mais esforço físico?”. Era claro que os japoneses estavam desperdiçando   alguma coisa. Se o desperdício fosse eliminado, a produção aumentaria instantaneamente e isso marcou o início do atual Sistema Toyota de Produção. Taiichi Ohno cate   gorizou os desperdícios em: superprodução, espera, transporte, processamento, estoque, movimentação e produtos defeituosos. Ele estava certo de que a eliminação com   pleta desses desperdícios aumentava a eficiência da operação. Para começar a Toyota deveria produzir somente o necessário, liberando força de trabalho extra.
     Quando falamos de desperdícios em TI há sempre uma dificuldade em identificá-los claramente. Steven Bell, em seu livro    TI Lean, adaptou os sete desperdícios à tecnologia da informação comparando-os    também à manufatura e o escritório, conforme mostra a figura 1. No final de sua obra é possível encontrar uma série de outros exemplos mais específicos que podem ajudar no    esclarecimento deste conceito.
  
 
           Figura 1. Comparação de desperdício na manufatura, no escritório e na TI.       Fonte: Bell, C. S. e Orzen, A. M. (2013),
 TI Lean – Capacitando e Sustentando sua Transformação Lean (p. 61). São Paulo: Lean Institute Brasil.                
  
     Steven também descreve Lean TI assumindo duas dimensões: voltada para fora (o qual será expressa pela palavra - out) no aspecto de melhorar a gestão         e processos empresariais, e voltada para dentro (o qual será expressa pela palavra - in) no uso de princípios e ferramentas para melhoria das operações,          serviços e desenvolvimento de software. É importante esclarecer essa separação a fim de entendermos qual área da TI o desperdício está ocorrendo.           Na tabela 1, apresento alguns exemplos de desperdícios categorizados pelas dimensões in e out.
                        
                 | Estoque | In: Excesso de especificações em processo causado pela lentidão no desenvolvimento           (Backlog). Diversas funções no código fonte que possuem a mesma           utilidade ou não são usadas pelo sistema. | 
      | Out: O número de licenças de           software é maior do que a quantidade de usuários. Informações duplicadas desnecessariamente no banco de dados. Excesso de links no menu de um sistema que           são acessados apenas por pessoas de outro departamento. | 
                  | Produção em excesso | In: Desenvolver algo que o cliente não utilizará. Reescrever funções que já estão prontas para um projeto. | 
      | Out: Sistema libera relatórios com informações que não são utilizadas pelos usuários. | 
                  | Espera | In: Desenvolvimento parado aguardando por                User Story ou qualquer outro tipo de especificação. | 
                     | Out: Sistema leva muito tempo para passar de uma tela para outra, obrigando o usuário a esperar. | 
                        | Transporte | In:                     Um programador especificar o que está desenvolvendo e enviar ao responsável (Product Owner). | 
      | Out: Fazer integrações com outros sistemas                     desnecessariamente (por exemplo, Web Services). | 
       | Superprocessamento | In: Desenvolvimento de código sem otimização, causando superprocessamento da máquina. Reuniões improdutivas                       (pode ser Out também). | 
      | Out: Acumular muitas funcionalidades em apenas uma tela do                       sistema, levando ao superprocessamento. | 
                                                         | Movimentação | In: Acessar help, Google ou qualquer outro tipo de site para esclarecer dúvidas simples de programação. | 
      | Out: Necessidade do usuário buscar informações em outras telas do sistema e em                              seguida voltar para onde estava. | 
       | Defeitos | In: Inconsistência entre a especificação e o resultado esperado. | 
                                     | Out: Sistema apresenta um erro de programação durante sua utilização pelo usuário. | 
                                  
      Tabela 1. Exemplos de desperdícios em Lean TI categorizados pelas dimensões in e out.                                        
  
                                                                           O pior desperdício seja em TI, manufatura ou escritório é a produção em excesso, pois com ele se carrega todos os outros.                                    Entender claramente os desperdícios e focar em sua redução, começando pela produção em excesso, é o primeiro passo para a conscientização das pessoas e                                    a evolução da organização. Foi dessa maneira que Taiichi Ohno iniciou o Sistema Toyota de Produção.
  Conclui-se que não é preciso sistemas                                    revolucionários de software ou gestão para ajudar uma empresa, mas entender primeiramente o que deve ser reduzido e trabalhar sem perder o foco, fará os                                    resultados aparecerem rapidamente. Por exemplo, imaginemos uma fábrica que conseguiu economizar dois segundos na produção de uma peça. Supondo que a produção seja de 200.000 peças ao mês, ela terá uma economia de 111,11 horas de energia, gasto de máquinas, mão de obra, etc. Entende-se que ao eliminar o desperdício, o custo diminuiu automaticamente. A mesma situação poderia ser aplicada a uma empresa de TI se levarmos em consideração a quantidade de tempo desperdiçado no dia a dia com reuniões improdutivas, telefonemas, emails, etc. Somando o tempo gasto de todos os colaboradores, considerando um mês de trabalho, chegaríamos a um número bem elevado. Em outras palavras, o desperdício deve ser entendido e eliminado pelas organizações.
      Bibliografia
          - Ohno, T. (1997), O Sistema Toyota de Produção por Taiichi Ohno. Porto Alegre: bookman
          - Bell, C. S., Orzen, A. M. (2013), TI Lean - Capacitando e Sustentando sua Transformação Lean. São Paulo: Lean Institute Brasil