Por  inúmeras vezes fui abordado ou abordei alguém para falar sobre a importância de  dedicar a maior parte do tempo possível no gemba.  Estar no local onde as coisas realmente acontecem, permite desenvolver a  capacidade de enxergar os desperdícios nos mais diversos processos produtivos.  O gemba é o local onde o trabalho acontece e o genbutsu é  a forma como ele realmente acontece. Ambas são palavras de origem japonesa “genchi” e “genbutsu”. Não é nenhum exagero afirmar que todos conhecem o real  significado desses termos e que também sabem da importância de estar no gemba,  esta palavra também já se popularizou no nosso meio. O que quero abordar aqui é  o quanto estamos migrando da etapa do conhecimento para a da atitude, uma  atitude gemba genbutsu.
  O espírito “vá e veja” assegura que  supervisores, gerentes e diretores estejam em contato constante com os membros  de suas equipes, o que permite também alinhar expectativas e comportamentos. Se  para um superior, a organização do ambiente, a segurança, o quadro de  acompanhamento de produção e o estado geral das máquinas são importantes, e ele  demonstra, através de seus gestos, que para seus subordinados também será. O gemba permite formar pelo exemplo.
  Estar no gemba não somará  nenhum valor se o direcionamento para ver o Genbutsu não estiver  adequado. Gosto muito de uma frase adotada certa vez pela Mercedes em sua  fábrica de eixos: “Não basta ver, tem que enxergar”, esse é o real espírito do gemba genbutsu, tem que enxergar. Quantos de nós fomos surpreendidos quando  alguém na produção nos apontou um risco de segurança aparentemente de fácil  visualização, mas, mesmo passando por ele diversas vezes ao dia, não fomos  capazes de enxergá-lo; precisou alguém, com os olhos calibrados para o Genbutsu, nos mostrar o problema. Porque isso ocorre? Quando estamos no gemba, raras  são às vezes em que nos desligamos de nossa rotina para observar com olhos  críticos uma atividade, seja ela envolvendo questões de segurança, processo,  qualidade, 5 Ss, TPM ou qualquer outra. Isso vale também para as atividades  administrativas e nos escritórios. Conheço muitas pessoas que passam grande  parte do dia no gemba, porém estão comprometidas em resolver algum  problema específico ou para falar com alguém que esteja executando algum  trabalho, estão no gemba para levar ou buscar uma informação ou para  acompanhar algum processo. Nunca me encontrei com alguém na produção ou no  escritório que, ao ser abordado sobre o que estava fazendo, desse a seguinte  resposta: “Estou observando esta atividade para ver como ela realmente  acontece, quero ver os desperdícios”. As únicas exceções são as inspeções de  segurança e quando estamos acompanhando um consultor.
  Para facilitar o seu entendimento  sobre o tema, vamos trabalhar com um exemplo administrativo: não é raro receber  reclamações de funcionários sobre o transporte oferecido pela empresa, seja por  alguma conduta do motorista, a rota estabelecida ou a falta de cumprimento dos  horários na passagem pelos pontos. Geralmente, esse é um serviço de  responsabilidade da área de Recursos Humanos e quase sempre o encaminhamento do  problema se dá através de uma reunião com os responsáveis pelo transporte, um  e-mail ou um telefonema. Se alguém se dispusesse a “pegar a van” com os funcionários, de forma  aleatória, por alguns dias, para saber como os fatos realmente acontecem, essa  pessoa teria uma atitude gemba genbutsu.
  Na escola da administração moderna,  somos ensinados que é possível administrar suportados por sistemas complexos,  que nos informam, através de relatórios na tela do computador, como está indo a  produção ou o serviço; temos até a tecnologia para recebermos diretamente esses  dados em nosso celular, de hora em hora, turno a turno ou diariamente. Vejo  isto como uma verdadeira armadilha. Nunca me baseio somente nos relatórios  quando tenho que tomar uma decisão ou planejar um kaizen - não que as pessoas sejam mal intencionadas e que as  informações estão incorretas, não se trata de nada disso - estar no gemba me  permite visualizar além dos apontamentos feitos nos relatórios e nos gráficos  que recebemos. Se você for para o local de trabalho com uma atitude gemba genbutsu, irá descobrir que sua capacidade produtiva, a melhoria no  desempenho, as oportunidades de 5 Ss e segurança são muito maiores do que você  pode imaginar. Admito um imenso progresso quando elaboramos nossos planos  operacionais, mas, na maioria das vezes, ainda nos baseamos pelos históricos e/ou  os desafios que nos foram passados para atingirmos um número final, são  planilhas preenchidas por supervisores, gerentes e controllers. Ainda  temos poucas experiências com uma atitude gemba genbutsu para saber se o  número informado reflete realmente o limite. Seria desafiar a partir de uma  visão “vá e veja”. O texto a seguir é do livro “The birth of lean” (Edit. Bookman- 2010), dos autores  Koichi Shimokawa e Takahiro Fujimoto, trata-se de dois depoimentos sobre a  importância do gemba para Taiichi Ohno, criador do Sistema Toyota de  Produção.
  “Nunca vi papéis na escrivaninha  de Ohno-san. Isso não é exagero. Literalmente nenhum documento. Os únicos  documentos a que ele de fato dedicava atenção eram os registros de produção e  os resultados das vendas: coisas como o número de veículos vendidos ontem, o  número de veículos produzidos ontem, as velocidades de operação e assim por  diante. Esses números eram registros de resultados reais e, por isso, eram  fatos inquestionáveis. Ohno-san tinha o mínimo interesse em qualquer outro  material escrito. Ele confiava apenas nas coisas que poderia confirmar com seus  próprios olhos”.
  “O gemba genbutsu era  absolutamente essencial na abordagem de Ohno-san. Ele nunca fazia um julgamento  com base apenas no que ouvia sobre algum assunto. Ele sempre insistia em ir ao  local em questão e observar. Nas vezes em que pedimos sua opinião, ele dizia:  Você é quem vê como são as coisas. Você sabe melhor que eu. Como poderia falar  de algo que nunca vi?” 
  O último parágrafo da narrativa  sobre o Sr. Ohno é o que mais me desperta, ele diz algo real sobre a atitude gemba genbutsu. Se você está no local onde as coisas acontecem, será sempre o  maior conhecedor desse processo, ninguém saberá mais do que você. A partir daí,  nascem seus próximos kaizens. Conheço  alguns líderes que dizem não saber nada sobre o lean, mas o que não sabem é que conhecem muito mais do que  muitos que se julgam experts. O  comportamento comum desses líderes é uma sadia resistência ao uso de sistemas  informatizados de forma geral e a preferência pelo gemba; o resultado:  seus departamentos são muito organizados e seus indicadores, os melhores. Pode  parecer contraditório, mas não estou condenando o uso de sistemas, como tudo na  vida, tem que haver um equilíbrio.
  Tenho imenso orgulho por fazer  parte de um time que evoluiu muito sobre os conceitos do lean, especialmente por poder  contribuir com alguma herança. Acho que temos uma equipe altamente preparada  sobre esse assunto. Daqui para frente, o que fará a diferença? O comportamento  e a atitude. Na maioria das vezes em que me deparo com desperdícios ou  oportunidades em processos de fabricação ou administrativos, a barreira maior  não está no conhecimento e sim no comportamento e no desejo de querer mudar  para obter algo excelente. O gemba genbutsu, aliado a alguma técnica,  irá ajudá-lo na formação de uma nova forma de agir e tomar decisões.
  Espero que o tempo que roubei de você para ler  este texto possa ser revertido em muitos benefícios através da observação  direta no local onde o trabalho realmente acontece. Seja no escritório ou na  produção, vamos desenvolver uma atitude gemba genbutsu.
   Fonte: Lean Institute Brasil
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