Por: Rodrigo Aquino
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O Scrum, framework inspirado no lean utilizado para o desenvolvimento de software, criado por Jeff Sutherland, John Scumniotales e Jeff McKenna nos anos 1990, tem despertado grande interesse, tido diversas aplicações concretas e relatos de seus benefícios reportados em revistas e livros.
Diferente de métodos anteriores como o Cascata, o Scrum aproxima o cliente da equipe de desenvolvimento não apenas no início e no fim do projeto, mas durante toda a concepção do software.
Na figura acima, o “Product Backlog” representa um conjunto de requisitos priorizados pelo “Product Owner” (nome do papel assumido pelo cliente no Scrum). Eles são implementados e entregues no intervalo de semanas por meio de pequenos incrementos no software, conhecidos por “Sprints”.
Durante o processo de desenvolvimento ocorrem reuniões diárias entre a equipe, com o objetivo de alinhar os envolvidos, identificar o que está impedindo o desenvolvimento, trocar informações entre os participantes sobre o que já foi feito, etc.
Esses conceitos e técnicas tem tido um enorme impacto no desenvolvimento de softwares, contribuindo para a redução dos lead times, diminuição dos custos e melhoria da qualidade, impactando diretamente na maior satisfação dos clientes.
Porém, uma dimensão pouca acentuada do Scrum é o seu lado motivacional e os benefícios que esse framework tão inovador traz para as pessoas envolvidas na produção de softwares.
Jeff Sutherland fez uma apresentação no Lean IT Summit 2014, evento anual que ocorre em Paris, e contou um pouco sobre sua estória de vida, sua experiência militar como piloto de caça (o qual foi o responsável por realizar muitas missões pelo Vietnã), além de como se tornou médico pela universidade do Colorado.
No início da apresentação confesso que fiquei curioso para entender porque Jeff contava boa parte de sua vida, mas após alguns slides fica claro seu objetivo: apresentar a origem do Scrum. Sutherland descrevia situações que havia passado e, sobretudo, suas experiências com as pessoas.
Tanto o processo, quanto as pessoas são as principais responsáveis pela entrega de um produto ou serviço de qualidade. Porém, apesar de todos os progressos recentes, notamos que a relação dos empregados com as empresas em que trabalham continua a ser um problema que merece ser equacionado.
Em sua apresentação, Sutherland destaca uma pesquisa publicada no “New York Times Sunday Review” e feita em 2013 com 12.115 empregados do mundo todo, contendo algumas razões do porque as pessoas odeiam tanto seu trabalho e dentre elas destaca a falta de tempo regular para a criatividade ou o pensamento estratégico, a falta de habilidade em focar em uma coisa por vez, a impossibilidade de fazerem o que mais gostam, a desconexão do trabalho individual com a missão da empresa, a falta de oportunidades de aprendizado e crescimento profissional, etc.
Assim, para Sutherland, um dos criadores do framework, o Scrum é muito mais do que um processo de desenvolvimento de software. Ele é, na realidade, uma forma eficaz de motivar as pessoas. Mas como o Scrum faz isso?
Segundo Sutherland, ao criar pequenos times, de até cinco pessoas, permite-se ter uma relação mais próxima com as pessoas e contribui para a identificação dos problemas mais rapidamente.
Em seguida, exalta que ao manter o trabalho visível, deixando claro o que e quando deve ser feito, dessa maneira, as pessoas começarão a entender que fizeram algo valioso e se sentirão bem consigo mesmas.
Os colaboradores sentirão a real importância de seu trabalho para o cliente por meio de constantes feedbacks positivos, motivando-os ainda mais.
Segundo Sutherland, a ideia é aproximar o máximo possível o cliente do desenvolvimento e, com isso, diminuir a chance de errar e ao mesmo tempo, as pessoas perceberão a real necessidade dos clientes e terão a possibilidade e o prazer em satisfazê-la.
Fatores como esses ajudam a criar um ambiente de trabalho agradável, onde todos os colaboradores terão prazer em participar e passar boa parte de seu dia a dia. Se o objetivo for entregar software, aviões ou qualquer outro tipo de produto com rapidez e qualidade, e para isso sabemos que precisamos das pessoas, a motivação é algo muito importante e deve fazer parte do processo de desenvolvimento.
Segundo Sutherland, o Scrum propicia uma aprendizagem mais rápida, mais diversão, desenvolvimento da liderança, maior envolvimento dos participantes, auto-disciplina, etc. Talvez seja por essas características que essa forma de se trabalhar vem sendo adotada por diversas empresas e organizações de ramos totalmente diferentes.
Se a sua empresa utiliza o Scrum é totalmente compreensível a adaptação de algumas das características desse framework como “Backlogs”, “Sprints”, reuniões diárias, etc., para realidade de mercado de cada companhia. O importante nesse caso é certificar-se de que o time responsável pelo desenvolvimento encontra-se motivado e consequentemente, entregando um produto de qualidade.
A motivação do pessoal torna-se um fator que deverá aumentar Sprint a Sprint, reafirmando o sucesso da utilização do framework Scrum.
Fonte: Lean Institute Brasil.
Data da publicação:
03/02/2015
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Rodrigo Aquino
LEAN IT
Professor do MBA e Pós-graduação na FGV, incluindo a disciplina de Transformação Digital, +25 anos de experiência (nacional e internacional em TI e negócios) sendo 10 anos com lean. MBA em Engenharia de Software/USP e Bacharel em Ciência da Computação/PUC-SP. Responsável pela revisão técnica do primeiro livro de Lean IT lançado no Brasil, revisor dos termos de TI do livro Liderar com Respeito e autor do livro: WPage - Padronizando o desenvolvimento de Web Sites. Experiência com lean nas área de TI, saúde, office e serviços, manufatura, trabalhando na melhoria de processos e transformação digital nas empresas. Responsável pela análise e desenvolvimento +100 WebSites dentre eles bcp.com.br (claro.com.br), landrover.com.br, TVA, Agip e Hotsites para Nokia, Ford, P&G, etc e diversos e-commerces. Co-autor do Framework Lean IT 2.0 e da ferramenta A3 Ágil. Experiência com Business Agility, DevOps, Gestão de Projetos Lean e Ágil, SCRUM, Kanban, XP, Lean Startup, JIT, A3, MFV (VSM), Gestão de Crise, ESG e Lean Canvas.